domingo, 31 de março de 2013

A natureza brasileira na visão romântica


Eu creio, amigo, que a existência inteira
É um mistério talvez: mas n'alma sinto,
De noite e dia respirando flores,
Sentindo as brisas, recordando aromas
E esses ais que ao silêncio a sombra exala
E enchem o coração de ignota pena,
Como a íntima voz de um ser amigo...
Que essas tardes e brisas, esse mundo
Que na fronte do moço entorna flores,
Que harmonias embebem-lhe no seio,
Têm uma alma também que vive e sente...

A natureza bela e sempre virgem,
Com suas galas gentis na fresca aurora,
Com suas mágoas na tarde escura e fria...
E essa melancolia e morbideza
Que nos eflúvios do luar ressumbra,
Não é apenas uma lira muda
Onde as mãos do poeta acordam hinos
E a alma do sonhador lembranças vibra.

Por essas fibras da natura viva,
Nessas folhas e vagas, nesses astros,
Nessa mágica luz que me deslumbra
E enche de fantasia até meus sonhos,
Palpita porventura um almo sopro,
- Espírito do céu que as reanima!
E talvez lhes murmura em horas mortas
Estes sons de mistério e de saudade,
Que lá no coração repercutidos
O gênio acordam que enlanguesce e canta!

Eu o creio, Luís! também às flores
Entre o perfume vela uma alma pura,
Também o sopro dos divinos anjos
Anima essas corolas setinosas!
No murmúrio das águas no deserto,
Na voz perdida, no dolente canto
Da ave de arribação das águas verdes,
No gemido das folhas na floresta,
Nos ecos da montanha, no arruído
Das folhas secas que estremece o outono,
Há lamentos sentidos, como prantos
Que exala a pena de subida mágoa.

E Deus? - eu creio nele como a alma
Que pensa e ama nessas almas todas,
Que as ergue para o céu e que lhes verte,
Como orvalho noturno em seus ardores,
O amor, sombra do céu, reflexo puro
Da auréola das virgens de seu peito!
Essa terra, esse mundo, o céu e as ondas,
Flores, donzelas - essas almas cândidas,

Beija-as o senhor Deus na fronte límpida,
Arreia-as de pureza e amor sem nódoa...
E à flor dá a ventura das auroras,
Os amores do vento que suspira...
Ao mar a viração, o céu às aves,
Saudades à alcion, sonhos à virgem
E ao homem pensativo e taciturno,
À criatura pálida que chora
- Essa flor que ainda murcha tem perfumes,
Esse momento que suaviza os lábios,
Que eterniza na vida um céu de enleio...
O amor primeiro das donzelas tristes.

São idéias talvez... Embora riam
Homens sem alma, estéreis criaturas,
Não posso desamar as utopias,
Ouvir e amar, à noite, entre as palmeiras,
Na varanda ao luar o som das vagas,
Beijar nos lábios uma flor que murcha,
E crer em Deus como alma animadora
Que não criou somente a natureza,
Mas que ainda a relenta em seu bafejo,
Ainda influi-lhe no sequioso seio
De amor e vida a eternal centelha!
Por isso, ó meu amigo, à meia-noite
Eu deito-me na relva umedecida,
Contemplo o azul do céu, amo as estrelas,
Respiro aromas... e o arquejante peito
Parece remoçar em tanta vida,
Parece-me alentar-se em tanta mágoa,
Tanta melancolia! e nos meus sonhos,
Filho de amor e Deus, eu amo e creio!
   Respiro o vento,e vivo de perfumes
   no murmúrio das folhas de mangueira;
   nas noites de luar aqui descanso e a lua enche de amor a minha esteira
             Álvares de Azevedo

Poema

Eu estou aqui sozinho
Pra mim é tudo escuridão
Sentado na praça
Em uma noite escura

Não sei oque fazer,
não é imaginação,
imaginação, não é

é um silêncio escuto
até o coração bater

É uma noite fria e negra
Apenas Neblina branca

Como você pode esperar
que eu posso mudar o mundo
se eu só sou alguém!
Com você!

Sem palavras a dizer
Sempre é assim
posso fazer isso? ou não?

Balançando na praça
Sem nada pra fazer
Por favor fale um "ALÔ"


João Vitor Gonçalves de Sá

terça-feira, 26 de março de 2013

Rosa de Saron - Amor Sincero


Foi num piscar de olhos que tudo se apagou
Já eram novos tempos
Tudo se transformou e eu fiquei perdido no mesmo lugar
Vendo pessoas indo e outras a chegar
Você não vai saber, tão pouco entender
Pois só a idade esconde um coração
Eu só quero um amor sincero
Que toque minhas mãos
Que faça minha vida mudar (2x)
Eu não consigo ver aonde eu vou chegar
Sinto que sou mais velho
Preciso caminhar
As noites são mais longas
Os dias são mais curtos
Eu vou entregar minha alma
E transformar meu mundo
Você não vai saber, tão pouco entender
Pois só a idade esconde um coração
Eu só quero um amor sincero
Que toque minhas mãos
Que faça minha vida mudar (4x)

Curiosidades

     Álvares, Trouxe características de suas obras através de dois autores europeus, Lord Byron e Alfredo Musset, "Noite da taverna" foi da autoria de Álvares, Vale destacar que não era cenário brasileiro, pois "Taverna" é um termo usado na Europa, que no Brasil denominamos de: Boates, Barzinhos, casas noturnas, entre outros.
     Onde o publico alvo eram homens, se encontravam bebidas, cigarros, garçonetes.
Viveu em São Paulo e no Rio de Janeiro, morreu muito cedo em 25 de abril de 1852, com 21 anos, após uma implicação gerada pós-cirurgia, Destacado no poema "seu morresse amanha" parecia que ele tinha certeza que iria morrer brevemente.

Álvares de Azevedo - O Poeta Moribundo





Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa!

Cantem esse verão que me alentava...
O aroma dos currais, o bezerrinho,
As aves que na sombra suspiravam,
E os sapos que cantavam no caminho!

Coração, por que tremes? Se esta lira
Nas minhas mãos sem força desafina,
Enquanto ao cemitério não te levam,
Casa no marimbau a alma divina!

Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.

Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!

Que ruínas! que amor petrificado!
Tão antedeluviano e gigantesco!
Ora, façam ideia que ternuras
Terá essa lagarta posta ao fresco!

Antes mil vezes que dormir com ela.
Que dessa fúria o gozo, amor eterno
Se ali não há também amor de velha,
Deem-me as caldeiras do terceiro inferno!


No inferno estão suavíssimas belezas,
Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Lá se namora em boa companhia,
Não pode haver inferno com Senhoras!

Se é verdade que os homens gozadores,
Amigos de no vinho ter consolos,
Foram com Satanás fazer colônia,
Antes lá que no Céu sofrer os tolos!

Ora! e forcem um'alma qual a minha,
Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça,
A cantar ladainha eternamente
E por mil anos ajudar a Missa!

Velha infância - Tribalistas


Ouro de tolo - Raul Seixas




Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Exagerado - Cazuza



Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos foram traçados
Na maternidade

Paixão cruel, desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

Por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Que por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais


Rosa - Marisa Monte





Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa
No amor!
Por Deus esculturada
E formada com ardor...

Da alma da mais linda flor
De mais ativo olôr
Que na vida é preferida
Pelo beija-flor...

Se Deus
Me fora tão clemente
Aqui neste ambiente
De luz, formada numa tela
Deslumbrante e bela...

Teu coração
Junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rosa e a cruz
Do arfante peito teu...

Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor...

Tu és de Deus
A soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor...

O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes
Como um sonho em flor...

És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim
Que tem de belo
Em todo resplendor
Da santa natureza...

Perdão!
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh! flor!
Meu peito não resiste
Oh! meu Deus
O quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te
Um dia ao pé do altar...

Jurar aos pés do Onipotente
Em preces comoventes
De dor, e receber a unção
Da tua gratidão...

Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te
Até meu padecer
De todo fenecer...


Esperando por mim - Legião Urbana






Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico às vezes
O tempo todo
Estou tentando me defender
Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria
arrogância
Esperando por um pouco de afeição
Hoje não estava nada bem
Mas a tempestade me distrai
Gosto dos pingos de chuva
Dos relâmpagos e dos trovões
Hoje à tarde foi um dia bom
Saí prá caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida
E tivemos um momento de paz
É de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço meus gritos
E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem
Agora meu filho espera por mim
Estamos vivendo
E o que disserem os nossos dias serão para sempre.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Poema Álvares de Azevedo







CREPÚSCULO NAS MONTANHAS

   Pálida estrela, casto olhar da noite,
        diamante luminoso na fronte azul do   
 crepúsculo, o que vês na planície?
                          OSSIAN

I

Além serpeia o dorso pardacento
Da longa serrania,
Rubro flameia o véu sanguinolento
Da tarde na agonia.

No cinéreo vapor o céu desbota
Num azulado incerto,
No ar se afoga desmaiando a nota
Do sino do deserto...

Vim alentar meu coração saudoso
No vento das campinas,
Enquanto nesse manto lutuoso
Pálida te reclinas

E morre em teu silêncio, ó tarde bela,
Das folhas o rumor...
E late o pardo cão que os passos vela
Do tardio pastor!

II

Pálida estrela! o canto do crepúsculo
Acorda-te no céu:
Ergue-te nua na floresta morta
Do teu doirado véu!

Ergue-te!... eu vim por ti e pela tarde
Pelos campos errar,
Sentir o vento, respirando a vida
E livre suspirar.

É mais puro o perfume das montanhas
Da tarde no cair...
Quando o vento da noite agita as folhas
É doce o teu luzir!

Estrela do pastor, no véu doirado
Acorda-te na serra,
Inda mais bela no azulado fogo
Do céu da minha terra!

III
 
Estrela d’oiro, no purpúreo leito
        Da irmã da noite, branca e peregrina
    No firmamento azul derramas dia 
 Que as almas ilumina!

Abre o seio de pérola, transpira
         Esse raio de luz que a mente inflama!
               Esse raio de amor que ungiu meus lábios
No meu peito derrama!

IV

   Lo bel pianeta he ad amar conforta
Faceva tutto rider l’oriente
                  DANTE, Purgatório

  Estrelinhas azuis do céu vermelho,
      Lágrimas d’oiro sobre o véu da tarde,
     Que olhar celeste em pálpebra divina
Vos derramou tremendo?

  Quem, à tarde, crisólitas ardentes,
         Estrelas brancas, vos sagrou saudosas
Da fronte dela na azulada c’roa
Como auréola viva?

        Foram anjos de amor, que vagabundos
        Com saudades do céu vagam gemendo
E as lágrimas de fogo dos amores
Sobre as nuvens pranteiam?

Criaturas da sombra e do  mistério,
  Ou no purpúreo céu doureis a tarde,
Ou pela noite cintileis medrosas,
Estrelas, eu vos amo!

  E quando, exausto o coração no peito
Do amor nas ilusões espera e dorme,
Diáfanas vindes-lhe doirar na mente
A sombra da esperança!

Oh! quando o pobre sonhador medita
Do vale fresco no orvalhado leito
Inveja às águias o perdido vôo
Para banhar-se no perfume etéreo...
E, nessa argêntea luz, no mar de amores
Onde entre sonhos e luar divino
A mão do Eterno vos lançou no espaço,
Respirar e viver!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Poema Álvares de Azevedo





Luar de Verão

                               O que vês, trovador? - Eu vejo a lua
                               Que sem lavor a face ali passeia;
                               No azul do firmamento inda é mas pálida.
                               Que em cinzas do fogão uma candeia

                               O que vês, trovador? - No esguio tronco
                               Vejo erguer-se o chinó de uma nogueira
                               Além se entorna a luz sobre um rochedo
                               Tão liso como um pau-de-cabeleira


                               Nas praias lisas a maré enchente
                               S'espraia cintilante d'ardentia
                               Em vez de aromas as doiradas ondas
                               Respiram efluviosa maresia!

                               O que vês, trovador? -No céu formoso
                               Ao sopro dos favônios feiticeiros
                               Eu vejo-e tremo de paixão ao vê-las-
                               As nuvens a dormir, como carneiros.

                               E vejo além, na sombra do horizonte,
                               Como viúva moça envolta em luto,
                               Brilhando em nuvem negra estrela viva
                               Como na treva a ponta de um charuto.

                               Teu romantismo bebo, ó minha lua,
                               A teus raios divinos me abandono,
                               Torno-me vaporoso, e só de ver-te
                               Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.

Poema Álvares de Azevedo




Spleen e charutos - Solidão

                                 Nas nuvens cor de cinza do horizonte
                                 A lua amarelada a face embuça;
                                 Parece que tem frio e, no seu leito,
                                 Deitou, para dormir, a carapuça.
 
                                 Ergueu-se... vem da noite a vagabunda
                                 Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
                                 Vem nua e bela procurar amantes...
                                  — É doida por amor da noite a filha.
 
                                 As nuvens são uns frades de                               ,
                                 Rezam adormecendo no oratório...
                                 Todos têm o capuz e bons narizes
                                 E parecem sonhar o refeitório.
 
                                 As árvores prateiam-se na praia,
                                 Ó lua, as doces brisas que sussurram
                                 Coam dos lábios teus como suspiros!
 
                                  Falando ao coração... que nota aérea
                                  Deste céu, destas águas se desata?
                                  Canta assim algum gênio adormecido
                                  Das ondas mortas no lençol de prata?
 
                                  Minh'alma tenebrosa se entristece,
                                  É muda como sala mortuária...
                                  Deito-me só e triste sem te  fome
                                  Vendo na mesa a ceia solitária.
 
                                  Ó lua, ó lua bela dos am res,
                                  Se tu és moça e tens um peito amigo,
                                  Não me deixes assim dormir solteiro,
                                  À meia-noite vem ceiar comigo.